31 janeiro, 2007

A CRIANÇA BOA E A CRIANÇA MÁ
livro "Besame mucho" de Carlos Gonzalez

Tomámos este título de empréstimo do conto de Mark Twain, não para, como ele, falar de crianças concretas, mas antes para falar de todas as crianças em geral. As crianças são boas ou más? O leitor deverá pensar que existe todo o tipo de crianças. Cada criança é única e, provavelmente, a maioria tende a ser boa, assim como os adultos.
Todavia, e deixando de lado os méritos próprios de cada criança, muitas pessoas (pais, psicólogos, professores, pediatras e o público em geral) têm uma opinião predeterminada e geral sobre a bondade e a maldade das crianças. São «anjos» ou «pequenos tiranos»; choram porque sofrem ou porque troçam de nós;são criaturas inocentes ou «têm a escola toda»; têm necessidade de nós ou manipulam-nos.
Deste conceito prévio depende se vemos os nossos próprios filhos como amigos ou inimigos. Para algumas pessoas, as crianças são ternas, frágeis, desprotegidas, carinhosas, inocentes e necessitam da nossa atenção e dos nossos cuidados para se converterem em adultos agradáveis. Para outros, as crianças são egoístas, más,hostis, cruéis, calculistas, manipuladoras e só se lhes dobrarmos a vontade logo de início e lhes impusermos uma disciplina rígida as poderemos afastar do vício e convertê-Ias em adultos capazes.
Estas duas visões antagónicas da infância impregnam há séculos a nossa cultura. Surgem em conselhos de familiares e de vizinhos e também nas obras de pediatras, educadores e filósofos. Os pais jovens e inexperientes, público habitual dos livros de puericultura (com o segundo filho, é possível que tenham menosfé nos especialistas e menos tempo para ler), podem encontrar obras que defendem as duas tendências: livros sobre como tratar as crianças com carinho e sobre como as reprimir.
Os últimos, infelizmente, são muito mais abundantes e foi por isso que me decidi a escrever este, um livro em defesa das crianças.
A orientação de um livro, ou de um profissional, raramente é explícita. Nas badanas do livro deveria dizer claramente: «Este livro baseia-se na convicção de que as crianças necessitam de atenção.» Ou então: «Neste livro assumimos que as crianças troçam de nós à mais pequena oportunidade.»
É isto também que os pediatrase psicólogos deveriam explicar logo na primeira consulta. As pessoas estariam assim conscientes das diferentes orientações e poderiam comprar e escolher o livro e o profissional que melhor se adaptasse às suas próprias convicções. Consultar um pediatra sem saber se ele é partidário do carinho ou da disciplina é tão absurdo como consultar um religioso sem saber se é católico ou budista, ou ler um livro de economia sem saber se o autor é capitalista ou comunista.

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